Minas Gerais acaba de dar um o estratégico e relevante na consolidação da sua economia criativa. O Sebrae Minas, em parceria com a ONG Contato, apresentou nesta quarta-feira (21) um diagnóstico aprofundado sobre o cenário do audiovisual no estado. O evento, realizado na sede do Sebrae, marca uma virada para o setor, conectando dados, escuta qualificada e propostas viáveis para transformar o talento criativo em desenvolvimento sustentável.
Fruto de uma ampla articulação institucional, o estudo reúne dados de fontes oficiais como a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, o Observatório do Audiovisual de Belo Horizonte, além de entrevistas com profissionais do setor realizadas pelo Instituto VER. A proposta é clara: alinhar políticas públicas às reais necessidades da cadeia produtiva audiovisual.
Minas em destaque no audiovisual nacional
De acordo com o levantamento, Minas Gerais ocupa hoje a terceira posição nacional em número de agentes econômicos cadastrados na ANCINE, somando 1.058 registros, sendo 825 considerados independentes. O estado também conta com 272 salas de cinema em funcionamento, o que revela uma malha de exibição considerável e em expansão.
Na capital mineira, Belo Horizonte, a concentração de negócios audiovisuais impressiona: são mais de 3.200 empresas ativas no setor, em sua maioria microempresas. Entre os anos de 2007 e 2023, segundo a Secretaria Municipal de Fazenda, o ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) arrecadado por atividades audiovisuais somou R$ 71 milhões, sinalizando a força econômica e a vitalidade do setor.
Gargalos e desafios identificados
Apesar dos avanços, o estudo aponta entraves que precisam ser superados para que o setor atinja todo seu potencial. Entre os desafios listados estão a ausência de políticas públicas estruturantes, a insegurança jurídica para produtores e investidores, além da transformação trazida por novas tecnologias, como as plataformas de streaming e o uso crescente de inteligência artificial nas etapas de produção e distribuição.
O diagnóstico também identificou a necessidade de um plano estadual de metas, com ações voltadas à formação de público, desenvolvimento de novos talentos e estímulo ao empreendedorismo criativo. A criação de um Observatório do Audiovisual Mineiro também é recomendada, visando monitorar, registrar e analisar o desempenho e as tendências do setor.
Ações concretas para um setor sustentável
“Acreditamos que este diagnóstico será um divisor de águas. Ele traz insumos fundamentais para o planejamento de políticas públicas mais eficientes e alinhadas à realidade do audiovisual mineiro”, afirma Nayara Bernardes, analista do Sebrae Minas. “Com dados claros e uma leitura profunda do setor, podemos agir estrategicamente, seja na capacitação, no o a crédito ou na ampliação da presença de Minas Gerais no mercado nacional.”
Para Helder Quiroga, coordenador da pesquisa e diretor da ONG Contato, a importância do diagnóstico está em oferecer não apenas um retrato, mas uma bússola para o futuro. “O objetivo não é só traçar um panorama sobre a atividade do setor nem os elos da cadeia produtiva, mas indicar caminhos e potências na geração de emprego e renda, na atração de investimentos e na construção estratégica de políticas públicas para o fomento da atividade. Trazemos elementos que norteiam as atividades de exibição, de produção e de pós-produção, para entender o volume de arrecadação de recursos, tanto para o estado quanto para o município, bem como a potencialidade de crescimento econômico que tem esse setor, diante dos desafios brasileiros”, frisa.
Leitura histórica e técnica do setor
Segundo Quiroga, o diagnóstico faz parte de uma série histórica desenvolvida em parceria com o Sebrae Minas. “Estamos construindo, ao longo dos anos, uma base sólida de informações para sustentar decisões públicas e privadas. Analisamos as atividades de exibição, produção, pós-produção, distribuição e comercialização de conteúdo. Essa leitura detalhada nos permite entender a real capacidade de arrecadação e crescimento econômico do setor audiovisual no estado.”
Ele destaca ainda que o estudo revela como a cultura pode ser vetor de transformação econômica. “O setor audiovisual vai além do entretenimento: ele gera negócios, promove inclusão e fortalece identidades culturais. Minas tem uma riqueza simbólica extraordinária, e o audiovisual é um instrumento poderoso para projetar isso no Brasil e no mundo.”
MAX: encontro de negócios e inovação
Desde 2016, o Sebrae Minas realiza a MAX – Minas Gerais Audiovisual Expo, o maior evento do setor no estado e um dos mais relevantes do país. Voltado à indústria do entretenimento, o evento promove conexões entre produtores, exibidores, distribuidores e investidores, estimulando a geração de negócios e o fortalecimento do ecossistema audiovisual.
A MAX oferece uma programação extensa, com rodadas de negócios, oficinas, painéis, mostras e debates. A curadoria é da BRAVI – Brasil Audiovisual Independente, associação que reúne mais de 670 produtoras nacionais. Em 2025, o evento acontecerá em novembro, novamente na sede do Sebrae Minas, em Belo Horizonte.
O audiovisual como política de futuro
O diagnóstico apresentado pelo Sebrae Minas e pela ONG Contato reforça o entendimento de que o setor audiovisual deve ser tratado como política estratégica de desenvolvimento. Trata-se de um segmento que movimenta talentos criativos, ativa cadeias produtivas diversas e estimula a economia de forma descentralizada.
Para garantir crescimento sustentável, o estudo recomenda medidas como incentivos fiscais, fomento à formação técnica, fortalecimento das redes de distribuição e ações para atrair investimentos externos. A aposta é transformar o capital simbólico mineiro em ativos econômicos reais.
A pesquisa completa e os relatórios históricos estão disponíveis para o público no site da ONG Contato: www.ongcontato.org.
Interiorização e inclusão cultural
Um ponto sensível do diagnóstico é a descentralização das oportunidades, ainda muito concentradas na capital. O estudo sugere a criação de políticas de interiorização, promovendo editais e programas que atendam às realidades regionais, com foco na formação de novos polos criativos.
Minas Gerais, com sua diversidade territorial e cultural, tem condições ideais para fomentar talentos em todas as regiões. A inclusão de novos atores e a valorização de narrativas locais são apontadas como caminhos essenciais para fortalecer o audiovisual como instrumento de cidadania e geração de renda.
Tecnologia e adaptação ao futuro
Outro aspecto abordado pelo estudo é o impacto da tecnologia no setor. O avanço das plataformas de streaming e o uso crescente de inteligência artificial estão modificando profundamente as formas de produção, exibição e consumo de conteúdo.
O diagnóstico defende que Minas Gerais precisa investir em capacitação tecnológica, pesquisa aplicada e infraestrutura digital para garantir que os produtores locais não fiquem à margem dessas mudanças. A proposta é preparar o setor para competir em igualdade de condições, tanto no mercado nacional quanto internacional.
Minas Gerais possui todas as condições para se tornar uma referência nacional na produção audiovisual. Com talento abundante, diversidade cultural e vocação criativa, o estado desponta como um celeiro de ideias e narrativas originais.
O diagnóstico lançado é uma ferramenta estratégica para guiar ações concretas de fomento, desenvolvimento e inovação. Cabe agora ao poder público, às instituições de apoio e ao setor privado construir pontes sólidas com base nesse conhecimento.
Com políticas bem articuladas, incentivo à formação técnica e estímulo ao empreendedorismo criativo, Minas pode inaugurar um novo ciclo para seu audiovisual — mais robusto, sustentável e conectado com os desafios do século XXI.
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