O recente aumento da taxa básica de juros, a Selic, promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, acendeu um alerta vermelho entre empresários e consumidores da capital mineira. Em um cenário já pressionado por instabilidades internacionais e cautela econômica, a elevação da Selic pode se traduzir em obstáculos significativos para o desempenho do comércio e dos serviços de Belo Horizonte.
CDL/BH alerta para impactos duradouros
De acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), o sexto aumento consecutivo da Selic representa uma ameaça concreta à retomada do crescimento econômico local, sobretudo no varejo e no setor de serviços — dois pilares fundamentais da economia da cidade.
Marcelo de Souza e Silva, presidente da CDL/BH, expressou preocupação com o novo patamar dos juros, o mais alto registrado nos últimos 19 anos. “O Banco Central quer se posicionar como uma instituição vigilante frente à inflação, buscando transmitir segurança aos investidores. Contudo, esse movimento de alta contínua da Selic compromete o ambiente de negócios, desestimula investimentos e mina a capacidade de reação do setor produtivo”, frisou o dirigente.
Juros altos travam o consumo
Com taxas de crédito cada vez mais elevadas, a população tende a frear o consumo. A queda no poder de compra não apenas desacelera o giro do comércio, como também retrai os serviços que dependem diretamente da demanda popular. Em termos práticos, o aumento da Selic impacta desde o pequeno lojista do bairro até grandes redes varejistas, atingindo também os trabalhadores autônomos e microempreendedores.
“O crédito caro afasta o consumidor. Sem financiamento ível, o mercado perde dinamismo, o consumo se retrai e as engrenagens da economia giram mais lentamente”, acrescentou Marcelo.
Clamor por recuo da Selic
A CDL/BH reitera a importância de uma reavaliação da política monetária nas próximas reuniões do Copom. Segundo a entidade, a esperança é que a trajetória dos juros seja revista de forma a permitir uma recuperação gradual do setor. A redução da Selic, segundo Marcelo, é hoje a principal chave para destravar o consumo, aquecer a economia e restaurar a confiança de empresários e consumidores.
“A inflação ainda preocupa, é verdade. Mas sem confiança, sem um sinal claro de estímulo ao mercado, corremos o risco de afundar ainda mais em um ciclo de estagnação econômica. É essencial inverter esse movimento e oferecer condições reais para que o crédito se torne viável novamente”, destacou o presidente da CDL.
Desaceleração econômica à vista
Além dos impactos diretos sobre o comércio e os serviços, o aumento da Selic reverbera também sobre a geração de empregos e o nível de investimentos na capital. O ambiente de negócios, já marcado por incertezas, sofre com o encarecimento do capital, provocando retração na abertura de novas lojas, suspensão de projetos e adiamento de contratações.
Investidores tornam-se mais cautelosos e a aversão ao risco cresce, especialmente em setores que dependem de alta rotatividade financeira e sensibilidade aos juros, como o varejo. Isso resulta em um ambiente menos propício à inovação e ao empreendedorismo, fatores essenciais para o crescimento de médio e longo prazo.
Inflação x Confiança do mercado
A estratégia do Banco Central é conter a inflação. No entanto, ao elevar continuamente os juros, a autoridade monetária corre o risco de sufocar a recuperação da economia real. A confiança, tanto do empresariado quanto do consumidor, é peça-chave para a reativação da economia, e essa confiança é sensível a decisões como a elevação da Selic.
Enquanto os indicadores macroeconômicos seguem instáveis, o sentimento no comércio é de apreensão. “Precisamos de previsibilidade e de um horizonte claro. O setor produtivo depende de condições adequadas para operar, e isso inclui juros compatíveis com a realidade de quem empreende”, finaliza Marcelo de Souza e Silva.
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