Papa Francisco morre aos 88 anos

O fim de uma era para a Igreja Católica
Com a morte do Papa Francisco, inicia-se oficialmente o período de Sé Vacante e os preparativos para o Conclave — o ritual secreto e tradicional pelo qual os cardeais escolhem o novo sucessor de Pedro. Foto: Vatican News.

O mundo amanheceu em silêncio nesta segunda-feira. O Vaticano confirmou o falecimento de Sua Santidade, o Papa Francisco, aos 88 anos, encerrando uma das mais transformadoras e simbólicas jornadas papais da história moderna. Nascido Jorge Mario Bergoglio, o primeiro papa jesuíta e latino-americano rompeu paradigmas, promoveu reformas profundas e deixou um legado espiritual, social e político que ecoará por gerações.

Comunicado oficial do Vaticano

A notícia foi divulgada oficialmente pelo cardeal Kevin Farrell, camerlengo do Vaticano, em pronunciamento breve, mas carregado de emoção.

“Queridos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que comunico a morte do nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma retornou à casa do Pai.”

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A nota prossegue exaltando a vida devotada de Francisco ao serviço de Deus e da Igreja.

“Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.”

Uma batalha silenciosa pela vida

Desde o início de 2024, o estado de saúde do pontífice vinha inspirando cuidados e preocupações crescentes. Ele foi hospitalizado em fevereiro com um quadro grave de bronquite, que evoluiu rapidamente para uma infecção polimicrobiana nos pulmões — uma condição médica de elevada complexidade.

A gravidade aumentou quando os médicos detectaram pneumonia nos dois pulmões, exigindo ventilação mecânica não invasiva e múltiplas transfusões sanguíneas. Um quadro de anemia e plaquetopenia contribuiu para o agravamento do seu estado clínico, que os especialistas classificaram como “reservado”, indicando o risco de morte iminente.

Durante os quase 40 dias de internação no Hospital Gemelli, em Roma, Francisco alternou entre breves melhoras e recorrentes crises respiratórias. O Vaticano, por sua vez, manteve uma linha cautelosa de comunicação, pedindo orações e privacidade.

Uma trajetória marcada pela resiliência

A saúde frágil do papa era conhecida há anos. Ainda jovem, Bergoglio enfrentou uma grave pleurisia, que levou à remoção parcial de um dos pulmões. A partir daí, desenvolveu tendência a infecções pulmonares recorrentes.

Em 2021, Francisco ou por uma cirurgia intestinal de grande porte para remover 33 centímetros do cólon, diagnosticado com diverticulite. Dois anos depois, em 2023, foram duas internações em sequência: a primeira por bronquite e a segunda por uma nova cirurgia abdominal. Nos últimos tempos, o pontífice ou a depender de cadeira de rodas por causa de dores crônicas no joelho e nas costas.

Mesmo com os desafios físicos, Francisco manteve firme sua presença espiritual, gravando mensagens aos fiéis e participando ativamente, ainda que de forma limitada, das decisões e orientações da Santa Sé.

O legado do papa reformista

Francisco será lembrado como um líder ousado, que desafiou tradições seculares com coragem e empatia. Seu papado, iniciado em março de 2013, foi um divisor de águas na história contemporânea da Igreja Católica.

Entre seus marcos mais notáveis:

  • Reforma da Cúria Romana: Reorganizou o Vaticano com foco em transparência e descentralização.
  • Tolerância e inclusão: Promoveu um discurso mais acolhedor em relação à comunidade LGBTQIA+, aos divorciados e aos não católicos.
  • Compromisso com o meio ambiente: A encíclica Laudato Si’ consolidou sua preocupação ecológica e o posicionou como um dos maiores líderes globais no debate climático.
  • Aproximação com o povo: Trocou o luxo da residência papal oficial pelo modesto Domus Sanctae Marthae, viveu com simplicidade e sempre buscou contato direto com os fiéis.

Um papa para os esquecidos

Em cada fala, gesto ou escolha, Francisco fez questão de lembrar os marginalizados. Falava dos migrantes como irmãos, dos pobres como prioridade absoluta da Igreja, e das periferias como centro de sua missão pastoral. Era, de fato, um “papa das bordas”, como ele mesmo dizia.

Seu posicionamento firme contra a desigualdade social, a xenofobia, o racismo e os abusos sexuais dentro da Igreja colocaram-no frequentemente em confronto com setores conservadores. Ainda assim, nunca recuou diante do que acreditava ser justo aos olhos de Deus.

O futuro da Igreja: quem sucederá Francisco?

Com a morte do Papa Francisco, inicia-se oficialmente o período de Sé Vacante e os preparativos para o Conclave — o ritual secreto e tradicional pelo qual os cardeais escolhem o novo sucessor de Pedro. Entre os nomes mais cotados, surgem figuras de diversas partes do mundo, refletindo o espírito global e multicultural do papado de Francisco.

Principais nomes cotados

  • Jean-Marc Aveline (França): Arcebispo de Marselha, defensor do diálogo inter-religioso e da causa dos migrantes.
  • Sérgio da Rocha (Brasil): Teólogo moral e profundo conhecedor das bases pastorais brasileiras.
  • Leonardo Steiner (Brasil): Primeiro cardeal da Amazônia, com forte atuação nas causas socioambientais.
  • Wilton Gregory (EUA): Primeiro cardeal afro-americano, ativo na luta por igualdade racial.
  • Fridolin Ambongo (Congo): Voz potente da África na defesa da paz e dos direitos humanos.
  • José Tolentino Mendonça (Portugal): Poeta, teólogo e intelectual irado no meio vaticano.
  • Pierbattista Pizzaballa (Itália): Patriarca de Jerusalém, mediador entre religiões no Oriente Médio.
  • Robert Prevost (EUA): Forte atuação pastoral na América Latina e voz influente na Cúria Romana.
  • Péter Erdo (Hungria): Figura conservadora com vasta formação acadêmica.
  • Blase Cupich (EUA): Progressista e defensor das causas sociais.
  • Luis Antonio Tagle (Filipinas): Famoso por sua espiritualidade humilde e apelo popular.
  • Matteo Zuppi (Itália): Presidente da Conferência Episcopal Italiana, conhecido por seu engajamento humanitário.
  • Mario Grech (Malta): Secretário do Sínodo dos Bispos, entusiasta do diálogo pastoral.
  • Pietro Parolin (Itália): Secretário de Estado do Vaticano, com extensa carreira diplomática.

A missão que segue viva

A morte do Papa Francisco não representa o fim de sua influência. Suas palavras, gestos e reformas continuam vivos em cada paróquia que acolhe o imigrante, em cada comunidade que protege a Amazônia, em cada jovem que encontra na fé uma razão para resistir ao cinismo do mundo moderno.

Ele inspirou uma Igreja mais humana, mais próxima e mais ousada. O sucessor que virá encontrará uma base sólida, mas também o imenso desafio de continuar uma caminhada que prioriza os pobres, valoriza o diálogo e exige coragem para romper muros e construir pontes.

A despedida do pastor universal

Francisco deixa um vazio difícil de preencher. Sua morte encerra uma era de transformação, de acolhimento e de escuta. Uma era em que o papa não era apenas o chefe da Igreja, mas o pastor universal — aquele que olhava nos olhos, que carregava crianças nos braços e que sorria, mesmo quando o corpo doía.

Sua última mensagem aos fiéis, gravada ainda durante a internação, foi um agradecimento pelas orações recebidas:

“Oro por cada um de vocês. Obrigado por me sustentarem com sua fé.”

E agora, é o mundo que reza por ele.

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