Imersão na História da Arte – Parte VIII

História, Curiosidades, Reflexões – Coluna Meg E.
Brasil Escola

Barroco

O Barroco surgiu na Itália, entre o final do século XVI e meados do século XVIII. Foi um movimento artístico que se distinguiu por um esplendor exuberante e que tinha profundas raízes na Antiguidade Clássica. Seus temas eram dinâmicos, contrastes fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo com tendências decorativas. Caracterizado pela dualidade entre o antropocentrismo e teocentrismo, permaneceu vivo no mundo das artes, influenciando a arquitetura e diversas artes remanescentes dos períodos anteriores

Com um viés renascentista a “arte barroca” deixou pouco consenso sobre seus conceitos e caracterização de seu estilo, englobados genericamente por muitos pesquisadores, não apenas como um estilo artístico, mas como um movimento sociocultural em um período histórico que formulava novas maneiras de entender o mundo, o homem e Deus.

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A agitação da época culminada por guerras, movimentos religiosos e entreveros políticos e econômicos fez com que países como Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Países Baixos se tornassem o novo eixo econômico, se consolidando como potências navais e cuja ascensão política, financiada pelas riquezas coloniais e comércio em expansão, beneficiasse enormemente as artes.

Murray Edelman (1919-2001) cientista e politico americano, em seu balanço sobre a arte nesse período, diz: “Os pintores e escritores maneiristas do século XVI eram menos “realistas” do que seus predecessores da Alta Renascença, mas eles reconheceram e ensinaram muito sobre como a vida pode se tornar motivo de perplexidade: através da sensualidade, do horror, do reconhecimento da vulnerabilidade, da melancolia, do lúdico, da ironia, da ambiguidade e da atenção a diversas situações sociais e naturais. Suas concepções tanto reforçaram como refletiram a preocupação com a qualidade da vida cotidiana, com o desejo de experimentar e inovar, e com outros impulsos de índole política…É possível que toda arte apresente essa postura, mas o maneirismo a tornou especialmente visível”.

Maneirismo: produção artística, principalmente italiana, que se estabeleceu entre 1520 e 1600. Representou um momento de transição entre a Alta Renascença e o Barroco. Revisava a visão clássica e naturalista da arte, manifestando na pintura, escultura e arquitetura italiana.

O Barroco foi o período em que se estruturaram as academias de arte e se fundou um método de ensino normatizado conhecido como academismo. Esse sistema desabrochou na França no reinado de Luís XIV com a criação de várias academias de arte e ciências, destacando-se a Academia Real de Pintura e Escultura. Com patrocínio real e sob direção de Charles Le Brun ela se tornou o principal instrumento de consolidação da monarquia absolutista de Luís XVI, elevando a França como o novo centro cultural europeu, ora antes pertencido à Itália.

A ideia de perfeição foi intensamente cultivada, e Pierre Bourdieu formulou a teoria de que a arte era a encarnação dos princípios da Beleza, da Verdade e do Bem.

As academias de arte se multiplicaram, aproximando o artista dos intelectuais, dando a eles um status profissional. Além do ensino, elas monopolizaram a ideologia cultural, o gosto, a crítica, o mercado e as vias de exibição e difusão de produção artística, estimulando a formação de coleções didáticas que acabaram por ser a origem de muitos museus de arte.

As construções monumentais de palácios, igrejas e teatros impactavam pela sua exuberância, opulência e grandiosidade criando uma integração entre as diversas linguagens artísticas prendendo o observador em uma atmosfera apaixonada e catártica.

Artistas:

  • Caravaggio (1571-1610) – caracterizado pela rudez de suas obras, onde explorava o contraste entre luz e sombra em seus temas religiosos. Destacam-se: “A Captura de Cristo”, “Flagelação de Cristo”,” A Morte da Virgem”, “Davi com a Cabeça de Golias” e “A Ceia de Emaús”;

Curiosidades sobre Caravaggio:

Autorretrato – Ao observarmos pacientemente a pintura, podemos ver que a testa, os olhos esbugalhados e as bochechas dilatadas de Medusa se parecem com as de Caravaggio. Ele usou um espelho convexo para estudar seu reflexo e utilizou suas feições como inspiração para a pintura. O que será que o incentivou Caravaggio a imortalizar seu rosto em um monstro? Mas, o mais impressionante é que esse não é o único autorretrato do artista. Caravaggio pintou alguns traços de seu rosto na cabeça ensanguentada de Golias, que era segurado pelos cabelos por David, o vitorioso. Outra obra com várias características de seu rosto é São João Batista, cuja cabeça foi decapitada e aparece jogada em cima de bandeja, segurada por Salomé. Essa pintura está na ilha de Malta, local que Caravaggio teve que se exilar para não ser preso depois de ass um homem.

 Efeito tridimensional – Caravaggio era um mestre. Misturava ‘claro e escuro’ em suas pinturas com uma maestria incrível, conseguindo um efeito tridimensional dos personagens que pintava. Suas pinturas apresentam uma iluminação dramática e intensa, em um realismo psicológico e sempre em cenas marcantes. Além desse efeito, Caravaggio frequentemente pinta o ato de olhar, que ora aparece dirigido para fora da pintura em direção do espectador, e ora está diretamente voltado para figuras da cena representada. Caravaggio mudou os rumos da arte. Até os dias de hoje, fotógrafos tentam imitar suas técnicas de luminosidade, o efeito claro-escuro e a estratégia de ressaltar as figuras em fundos escuros, como uma mágica tridimensional para ganhar profundidade.

Sem esboços e sem nu feminino – Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, Caravaggio normalmente pintava diretamente na tela, sem desenhos preparatórios. Ele também se diferenciava da maioria dos outros pintores de sua época por nunca ter pintado nus femininos, apesar de estar sempre em companhia de prostitutas. Ele usava as prostitutas como modelos, mas elas apareciam nas obras sempre vestidas. Grande parte de seu trabalho mostra nus masculinos bem sugestivos, o que gerava na época especulações sobre sua sexualidade (até hoje não comprovadas). Violência, assassinato e morte eram temas frequentemente de suas pinturas extremamente realistas.

Ele era religioso – Isso não é Fake News. Caravaggio era católico ortodoxo e pintou muitas cenas bíblicas para contar a história da Igreja. Quase metade de seu trabalho foi sobre temas religiosos e a visita gratuita a igrejas de Roma com suas obras é imperdível. Quando puder, visite Santa Maria del Popolo e a Igreja de São Luis dos ses. Porém, a conotação sensual ou, em alguns casos, violenta de suas pinturas demorou para ser entendida pelo público, tendo obras rejeitadas por muitos representantes da Igreja. Ele tornava igualmente sedutor dois temas antagônicos: sexo e religião. Para nossa sorte, essa ambiguidade era irada por muitos de seus patronos.

 

  • Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) – escultor e arquiteto italiano. Suas obras encontram-se em Roma e no Vaticano, entre elas: “Praça de São Pedro”, “Catedral de São Pedro”, “O Êxtase de Santa Teresa”, “Busto de Paulo V” e “Castelo de Santo Ângelo”;
  • Rembrant (1606-1669) pintor holandês, considerado, por alguns, como o maior pintor da história holandesa. Trabalhou na inovação de luz e sombra, retratos, autorretratos, obras sacras e históricas. Usava uma espécie de monóxido de chumbo acrescentado ao impasto e misturado ao óleo e tinta para criar suas obras em que se destacam: “ A Ronda Noturna”, O Retorno do Filho Pródigo”, “Tempestade no Mar da Galileia” entre outras de imenso valor artístico;
  • Diego Velázquez (1599-1660) – pintor espanhol. Suas obras mais relevantes são: “As Meninas”, “Velha Fritando Ovos”, “Retrato de um Homem”, “Cristo Crucificado”;
  • Padre Antônio Vieira (1608-1697) – principal autor do barroco literário português. ou grande parte de sua vida no Brasil. Sua principal obra, “Os Sermões” retrata a vida social portuguesa e brasileira, revelando um mundo rico e contraditório. Seus sermões polêmicos criticavam o despotismo dos colonos portugueses, a influência negativa do Protestantismo sobre a colônia, defendia os indígenas perseguidos pela inquisição.

O Barroco no Brasil:

O Barroco no Brasil foi introduzido pelos jesuítas no fim do século XVI. A partir do século XVII generalizou-se principalmente na Bahia e no século XVIII atingiu a província de Minas Gerais. Foi ali, que o exponencial do barroco mineiro, Aleijadinho (1738-1814) elaborou uma arte profundamente nacional. Suas esculturas em pedra sabão, entalhes em madeira, altares e igrejas o tornaram um artista brasileiro reconhecido mundialmente.

Os Doze Profetas é um conjunto de esculturas em pedra sabão feitas entre 1800 a 1805 pelo artista, localizadas no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas/MG.

Suas obras estão espalhadas pelas cidades de Ouro Preto, Tiradentes, São Joao Del-Rei, Mariana, Sabará, Morro Grande e Congonhas.

Aleijadinho aprendeu a entalhar e esculpir com seu pai, ainda criança e fez várias imagens religiosas esculpidas em madeira. Além de entalhador, era escultor, arquiteto e projetista. Em estilo Barroco e Rococó consagrou-se como grande artista brasileiro e seus trabalhos até hoje são fonte de inspiração e estudo. Mesmo sofrendo com uma doença debilitante e preconceito pela sua condição de mestiço, sua genialidade o levou a ser considerado o maior gênio da arte colonial do Brasil.

Outras obras: “Altar Nossa Senhora do Rosário” em Mariana, “Igreja de São Francisco de Assis” em Ouro Preto, chafariz em Ouro Preto para o pátio do Palácio dos Governadores, “São Joaquim” em Mariana dentre muitas outras.

Outros artistas do Barroco Brasileiro:

  • Mestre Ataíde (1762-1830) militar, pintor e decorador, viveu em Mariana. Vários seguidores até hoje usam seu método de composição, principalmente em trabalhos de perspectiva nos tetos de igrejas;
  • José Joaquim da Rocha (1737-1807) pintor, dourador e restaurador. Todas as suas obras se desenvolveram no domínio da arte sacra;
  • Eusébio de Matos e Guerra foi um dos maiores pintores da arte barroca brasileira. Orador e poeta de nacionalidade portuguesa nascido no Brasil, atuou entre 1629 e 1692. Era irmão de Gregório de Matos;
  • Jesuíno de Monte Carmelo (1764-1819) pintor, arquiteto, escultor, entalhador, músico, poeta. Nasceu em Itu/SP;
  • José Teófilo de Jesus (1758-1847) pintor e decorador, foi um dos maiores representantes da Escola Baiana de pintura;
  • Agostinho de Jesus (1600-1661) escultor nascido no Rio de Janeiro, foi discípulo do frei Agostinho da Piedade, produzindo estátuas sacras em terracota;

 

Curiosidades:

  • O termo Barroco originalmente significaria “pérola irregular ou imperfeita” cuja origem do termo é obscura, podendo ser derivada do português antigo, do espanhol, do francês ou do árabe, e esse uso ainda sobrevive no termo pérola barroca do joalheiro;
  • Outras opiniões ainda recaem sobre o termo ter sua origem em uma fórmula mnemotécnica (estimulação da memória), usada pelos escolásticos para designar um dos modos do silogismo, dando ao termo um sentido pejorativo de raciocínio estranho, tortuoso, em que se confunde o falso com o verdadeiro;
  • As imagens sacras colocavam a escultura numa relação entre os homens e Deus, desenvolvendo um gênero conhecido como “sacro monte”, conjunto de obras que reproduziam a Paixão de Cristo;
  • Na pintura, a criação de grandes tetos pintados onde as paredes do templo parecem continuar para cima e se abrir para o céu, oferecendo a visão de uma epifania onde santos, anjos e Cristo parecem descer entre nuvens e resplendores de glória;
  • A exploração dramática de luz e sombra coloca Caravaggio como um expoente pintor barroco;
  • As pinturas de naturezas-mortas e interiores domésticos refletiam o gosto burguês pelas obras;
  • A arquitetura barroca se caracterizava pela complexidade na construção do espaço e pelo efeito impactante, com uso de contrastes de cheio e vazio, formas côncavas e convexas, efeitos dramáticos de luz e sombra, integrando a arquitetura e a pintura, a escultura e artes decorativas em geral;
  • A literatura que floresceu nesse período deu origem a literatura moderna, sendo várias correntes a grande influência para o florescimento literário;
  • A literatura para o teatro ascendeu em várias obras onde o drama era a figura principal;
  • O teatro barroco, através da herança renascentista, criou cenários com perspectiva ilusionistas, de impacto realista usando painéis ou construções tridimensionais sobre os palcos, onde a cenografia se consolidou como parte importante das representações teatrais;
  • A música teve uma revolução profunda, com evolução da técnica vocal. As músicas sacras se instalaram com vários estilos e mudanças sobre a forma e a sonoridade;
  • O barroco brasileiro teve início em 1601, tendo como obra significativa, Prosopopéia (poema épico) de Bento Teixeira, terminando com as obras de Cláudio Manuel da Costa, em 1768
  • A arte barroca foi feita para propaganda religiosa;
  • As obras do barroco católico eram geralmente grandes;
  • Os artistas criaram inovações para torna seus trabalhos mais realistas e emotivos;
  • O estilo barroco tornou-se um símbolo de riqueza e poder;
  • A essência do barroco se estendeu além do propósito pretendido, descrevendo qualquer trabalho ornamentado, altamente detalhado e extravagante. Em versão mais elaborada o Rococó foi um desdobramento do barroco, descrevendo cenas lúdicas, alegres e caprichosas.

Reflexões:

A arte barroca criou tendências artísticas que são estudadas até hoje na sociedade. Sua influência e legado para o mundo elucidaram uma história de exuberância, transcendência, e imaginação, em que os ensinamentos, principalmente religiosos, eram difundidos por meio da arte, em forma textual rebuscada e ornamentada. A profundidade da emoção, as reflexões acerca da guerra entre o bem e o mal, Deus e diabo marcaram uma época de elevação da arte, contestação de conceitos, resgate de ideais em que os artistas se firmavam por meio de trabalhos enormes, de cores vivas, entalhados e profetizados pelos anjos, santos e imagens sacras de toda a ordem.

O artista barroco cultuou seu espaço nas profundezas da mente, nas mãos da criatividade, no cerne das paixões e consolidou-se como uma era de grande herança artística, exercendo uma influência cultural em todos os povos do mundo.

Como artista e iradora de cada época que aqui descrevo, me sinto cada vez mais empenhada em estudar, conhecer e compartilhar os conhecimentos deixados por esses talentosos profissionais e suas obras, desbravar suas técnicas, desvendar seus mistérios e me envolver na arte literária, na pintura, na escultura em busca de aperfeiçoamento de técnica e desenvolvimento da criatividade.

O entretenimento através da leitura nos faz mais ricos e inseridos num espaço especial e desejo fortemente contribuir para o enriquecimento literário e cultural daqueles que acompanham meu trabalho.

É com imenso prazer que semanalmente desenvolvo essa coluna e espero que essa leitura seja prazerosa e de fácil compreensão.

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